sexta-feira, 18 de julho de 2014

O golfinho e o filho do faroleiro

Reunidos dentro do farol, sentados na sua base quadrangular, com as perninhas à chinês, Ana aguardou que somente se ouvisse o silêncio dos olhos esbugalhados dos gaiatos imersos na curiosidade. Lá fora, apenas o murmurar das ondas beijando as rochas acariciavam o farol.

Era uma vez um jovem rapazinho, cujo pai era faroleiro no Farol de Santa Marta.

Em tempos idos, em que a luz do farol ainda funcionava a azeite, o faroleiro Ezequiel vivia com o seu filho pequeno, numa humilde casinha, mesmo ao lado do farol.

Era um trabalho bastante solitário, tal como solitárias eram também as brincadeiras do jovem rapazinho.

Um dia, estava o pequeno a atirar pequenas rochas, conchas e conchinhas ao mar, quando de súbito, avistou um golfinho que parecia nadar em sua direcção. Parecia querer chamar a atenção do petiz, pois saltava e nadava alegremente em círculos. Então o menino, sem medo, nadou até o animal e, gradualmente, foi ganhando a sua confiança. Até que o golfinho parou... foi então que o menino aproveitou para saltar para o seu dorso.

Juntos nadaram nas águas azuis-esverdeadas do oceano, e cortando as ondas passaram rente às pequenas embarcações dos pescadores, até que chegaram ao Farol da Guia.

Já o sol se deitara sobre o Atlântico, quando regressaram ao Farol de Santa Marta.

O menino agradeceu ao golfinho pela encantadora tarde e prometeu-lhe regressar todos os dias, enquanto estivesse de férias.

Porém, um desses dias, o menino adoeceu e teve de permanecer em casa, durante bastante tempo.

O golfinho não se esquecera do menino e insistentemente regressava ao local combinado, na esperança de encontrar o seu pequeno amigo humano. Mas o menino não aparecia…

Então o golfinho adoeceu e desatou a definhar… quase moribundo, nadou sem forças até ao farol, como se da última vez se tratasse, esperando ver o seu companheiro de aventuras…

Felizmente, o menino recuperou e nesse mesmo dia pediu ao pai, o faroleiro Ezequiel, que o deixasse brincar lá fora junto ao mar.

Quando o menino avistou o golfinho e se apercebeu que este nadava com grande dificuldade, precipitou-se ainda meio vestido para as ondas, nadando o mais depressa que podia em direcção ao seu amigo marinho. Logo o abraçou ternamente, prometendo dele cuidar. Quando o sal das suas lágrimas se confundiram com o da água do oceano, Tétis, a deusa do mar, compadeceu-se com o amor do rapazinho por um dos seus golfinhos.

Do alto do Farol de Santa Marta, Ezequiel o faroleiro pareceu avistar um menino no dorso de um lindo e alegre golfinho cinzento prateado nadando em direcção ao infinito.

Julho 2014 / Ana Paula Fogaça


Sem comentários:

Enviar um comentário