“Está a chover, está a pingar
e a raposa no quintal
a apanhar as laranjinhas
para o dia de Natal!”
Assim lengalava, que é
como quem diz, cantava a lenga-lenga, Paulinha com os seus amiguinhos cor de
ébano, todos descalços, em dias de chuva.
No quintal de D. Isabel, juntamente com as
primeiras chuvas, era presságio que o Natal se aproximava a passos largos.
Donde viria essa cantilena infantil? A raposa não é um animal
frequente em África… à excepção talvez, da raposa-do-Cabo… seria das fábulas de
La Fontaine?
Yazald, por favor, traz-me de volta a minha infância perdida,
Traz-me de volta esses pingos grossos e cálidos de chuva
da minha Terra, beijando-me o rosto.
Ajuda-me a largar estas galochas que agora trago,
Quero voltar a sentir o cheiro da terra molhada e fértil,
Quero voltar a sentir o prazer de pular e brincar descalça à
chuva,
Essa chuva abençoada,
Com as crianças da minha Terra, minhas irmãs, quer seus pais
hasteiem a bandeira da Frelimo ou da Renamo… o que lhes importa?
Se a chuva quando cai, cai de igual modo em todos aqueles
inocentes rostos…
Só em mim, ela cai gelada e despida de esperança.
Quero voltar a senti-la,
Quero voltar a ser criança e feliz!
Quero com essas crianças festejar a alegria da Paz, um dia!
Yazald, por favor, que boas novas me contas da minha amada
Terra?
Cascais, 18 de Outubro de 2014.
Fotografia gentilmente cedida pelo baterista da banda do meu
amigo e patrício Yazald.