domingo, 16 de novembro de 2014
Mousse de chocolate com coco
Aos
meus adorados primos, pela inesquecível infância dourada.
Que
os nossos destinos permaneçam entrelaçados para sempre.
Paulinha
não tinha irmãos de pai e mãe, mas tinha irmãos de coração. E o pai destes, era
também, de alguma forma, seu pai.
Tio
Câmara, era uma figura carismática, aprumadamente enquadrado na paisagem de
então. Dele, Paulinha recordava-se bem das vestes a lembrarem tempos coloniais,
sempre muito elegante e perfumado. Apesar das tradicionais cabedulas[i],
balalaica[ii] e
meias altas, tudo rigorosamente engomado, ostentava sempre um elegante e
colorido lenço ao pescoço (um foulard masculino) que lhe dava um toque very dandy. Toda esta mise en scéne sob um sol tórrido com
elevado grau de humidade.
Não
só tio Câmara era grande, forte e alto, como grande era também o seu carro, o
inconfundível Mercedes-Benz [Paulinha, não se recordava da cor] com a sua
enorme roda, a fazer de volante.
Sentada,
em cima dos joelhos do seu adorado tio, Paulinha, nem por isso chegava aos
pedais da majestosa viatura, mas sob orientação daquele, girava a gigante roda,
conferindo-lhe a falsa sensação de conduzir os caminhos do seu próprio destino.
-
O que querem, hoje, tomar os meninos? – Dizia tio Câmara com a sua voz de tenor
[na realidade, a voz era um dos seus múltiplos atributos].
-
Mousse de chocolate! – Dissera prontamente Paulinha.
-
Coca-cola! – Disseram em uníssono os primos Octávio e Filomena.
- Pois
mousse de chocolate, seja! – Assegurava tio Câmara. – Vamos ao Chuabo!
Fosse
qual fosse a resposta, Chuabo, ou lá
como se chamava o snack-bar, seria sempre a resposta dos milhões.
Como
esquecer, o mais moderno e emblemático café-snack-bar da Zambézia? Aquele que
pertencia ao grande Hotel Chuabo de Quelimane… ao lado do não menos
emblemático, prédio do Monteiro & Giro, de sete andares?! Recorde-se que estávamos
no início dos anos 70, algures no coração da Zambézia… não, não era mato, era a
cidade de Quelimane, a cidade de Paulinha, nos seus tempos áureos.
O
café Chuabo era um dos locais predilectos
do tio Câmara, pois constituía a oportunidade de rever e confraternizar com os
seus amigos Bôeres (Sul-Africanos), também
estes “fardados” com calções e camisas de caqui, imaculadamente engomados e
meias altas.
Partilhavam
os mesmos gostos, como a caça grossa, a aviação, o whisky on the rocks ou com soda…
- Hello Johnny, my friend! – Dizia tio
Câmara a um dos seus amigos…
É
verdade, algures num local recôndito da África oriental, mais precisamente em
Moçambique, algures no coração da Zambézia, em Quelimane, terra de Paulinha,
encontrava-se um dos mais luxuosos cafés dos anos setenta, com ar condicionado
(nada de ventoinhas no tecto à boa maneira colonial), pasme-se – luzes verdes néon!
whisky do bom (só este tinha direito de admissão), e a mais maravilhosa mousse
de chocolate com coco que Paulinha alguma vez experimentara…
Não,
não era o café Chuabo do Hotel
Chuabo, era apenas o paraíso na terra, a avaliar pelo calor insuportável que se
fazia sentir lá fora. (continua)
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