Porque o
prometido é devido, este pequeno conto é inspirado no conto “A princesa e a
ervilha”, que tanto fascina a minha amiga do Farol de Santa Marta, Ana Cristina
– Princesa Ervilha é para ti…
Salvador lá desceu em passos pequeninos, os degraus do farol, e juntara-se
ao grupo de colegas que o acompanhava.
Ao passarem por uma das casas, outrora uma das modestas residências dos
faroleiros de Santa Marta, Ana lembrou-se de uma pequena horta que lá havia e prontamente
perguntou:
- Quem daqui gosta de sopa de ervilhas?
Foram poucos os que puseram o dedinho no ar, incluindo Salvador, o qual,
ladino como sempre, fazendo cara feia, ripostou:
- Eu não!
- Pois eu vou contar-vos uma história, continuou Ana, sobre um grão de
ervilha!
Antigamente, quando viviam aqui faroleiros, no tempo do faroleiro
Ezequiel e do seu pequeno filho, lembram-se? Era costume utilizar-se este espaço
para uma pequena horta.
Além de criarem animais, como patos e galinhas, para consumo próprio,
cultivavam batatas, cenouras, alfaces, feijões e ervilhas.
Sabem que os grãos de ervilha são muito docinhos e excelentes para sopas
e guisados.
Tal como o Salvador, também o filho do faroleiro Ezequiel, não era lá
muito amigo de ervilhas…
Ezequiel passava muitas noites escuras em claro, sobretudo aquelas mais invernias e chuvosas, de vigia bem no alto do seu farol avisando com a sua luz,
os barcos, navios e demais embarcações da proximidade das rochas.
Por isso, tinha como companheiro, além do seu fiel cachimbo, o seu termo
de café bem quentinho que fazia com que tivesse um sono mais leve.
Mas o seu aprendiz de faroleiro preferido era ainda demasiado jovem para
tomar café! Ezequiel lembrou-se então do que lhe fizera o seu pai e antes, o
avô Malaquias a seu pai…
Foi até à horta de casa e arrancou uma vagem de ervilhas, lavando-as bem
lavadinhas. Pegou num grão de ervilha e dirigindo-se a seu filho, disse-lhe:
- Antes de te deitares, coloca este grão de ervilha debaixo do colchão.
O rapaz assim fez.
Na manhã seguinte, mal os primeiros raios de sol acordavam o oceano que
se mostrava ainda cansado da noite anterior, Ezequiel perguntou-lhe:
- Dormiste bem, meu rapaz? Ao que o pequeno faroleiro lhe respondera:
- Não, meu pai! A verdade é que não consegui pregar olho toda a noite.
Sempre que tentava mudar de posição, sentia o grão de ervilha debaixo do
colchão e não conseguia dormir um sono descansado.
Ezequiel, sorrindo, adiantou:
- Então és um verdadeiro faroleiro, meu rapaz! Sabes, apenas os
faroleiros de verdade conseguem sentir um tão pequeno grão de ervilha debaixo do colchão. Nas noites de tormenta, temos de nos manter alertas e
vigilantes… então, colocamos um grão de ervilha debaixo do colchão. Agora sei
que serás um bom faroleiro, como eu!
Outubro, 2014.
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