sábado, 11 de outubro de 2014

O pequeno faroleiro e o grão de ervilha

Porque o prometido é devido, este pequeno conto é inspirado no conto “A princesa e a ervilha”, que tanto fascina a minha amiga do Farol de Santa Marta, Ana Cristina – Princesa Ervilha é para ti…

Salvador lá desceu em passos pequeninos, os degraus do farol, e juntara-se ao grupo de colegas que o acompanhava.

Ao passarem por uma das casas, outrora uma das modestas residências dos faroleiros de Santa Marta, Ana lembrou-se de uma pequena horta que lá havia e prontamente perguntou:

- Quem daqui gosta de sopa de ervilhas?

Foram poucos os que puseram o dedinho no ar, incluindo Salvador, o qual, ladino como sempre, fazendo cara feia, ripostou:

- Eu não!

- Pois eu vou contar-vos uma história, continuou Ana, sobre um grão de ervilha!

Antigamente, quando viviam aqui faroleiros, no tempo do faroleiro Ezequiel e do seu pequeno filho, lembram-se? Era costume utilizar-se este espaço para uma pequena horta.

Além de criarem animais, como patos e galinhas, para consumo próprio, cultivavam batatas, cenouras, alfaces, feijões e ervilhas.

Sabem que os grãos de ervilha são muito docinhos e excelentes para sopas e guisados.

Tal como o Salvador, também o filho do faroleiro Ezequiel, não era lá muito amigo de ervilhas…

Ezequiel passava muitas noites escuras em claro, sobretudo aquelas mais invernias e chuvosas, de vigia bem no alto do seu farol avisando com a sua luz, os barcos, navios e demais embarcações da proximidade das rochas.

Por isso, tinha como companheiro, além do seu fiel cachimbo, o seu termo de café bem quentinho que fazia com que tivesse um sono mais leve.

Mas o seu aprendiz de faroleiro preferido era ainda demasiado jovem para tomar café! Ezequiel lembrou-se então do que lhe fizera o seu pai e antes, o avô Malaquias a seu pai…

Foi até à horta de casa e arrancou uma vagem de ervilhas, lavando-as bem lavadinhas. Pegou num grão de ervilha e dirigindo-se a seu filho, disse-lhe:

- Antes de te deitares, coloca este grão de ervilha debaixo do colchão. O rapaz assim fez.

Na manhã seguinte, mal os primeiros raios de sol acordavam o oceano que se mostrava ainda cansado da noite anterior, Ezequiel perguntou-lhe:

- Dormiste bem, meu rapaz? Ao que o pequeno faroleiro lhe respondera:

- Não, meu pai! A verdade é que não consegui pregar olho toda a noite. Sempre que tentava mudar de posição, sentia o grão de ervilha debaixo do colchão e não conseguia dormir um sono descansado.

Ezequiel, sorrindo, adiantou:

- Então és um verdadeiro faroleiro, meu rapaz! Sabes, apenas os faroleiros de verdade conseguem sentir um tão pequeno grão de ervilha debaixo do colchão. Nas noites de tormenta, temos de nos manter alertas e vigilantes… então, colocamos um grão de ervilha debaixo do colchão. Agora sei que serás um bom faroleiro, como eu!


Outubro, 2014.





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