sábado, 13 de setembro de 2014

O meu soldadinho de chumbo

Paulinha gostava particularmente d’O Capuchinho Vermelho e d’O Soldadinho de Chumbo.

Embora o primeiro conto a acompanhasse durante toda a sua vida, o segundo, ficaria escondido, como que soterrado num baú de memórias ainda por abrir.

Era uma manhã de sábado, como tantas outras, com a diferença de terem decorrido mais de quarenta anos. À mesa do pequeno-almoço (para os conterrâneos de Paulinha, matabicho), ouvia enternecida as descobertas do seu pequeno homenzinho (como gostava de lhe chamar) de 8 anos, o seu geniozinho, não da lâmpada (esta estava agora ultrapassada) mas da informática.

- Sabes quais são os contos que mais gosto, mãe? Perguntara-lhe convicto do que iria afirmar.

- Não!

- São: Os 3 Irmãos e o Soldadinho de Chumbo.

- Porquê?

- Os 3 Irmãos (entretanto contara-lhe a história) porque nos conta uma lição!

- Ah, queres dizer uma moralidade: “Não faças aos outros o que não gostarias que te fizessem a ti.” – Acrescentou.

- E o Soldadinho de Chumbo, meu amor, porquê? Perguntara-lhe, num misto de ternura e curiosidade.

- Por isso mesmo que disseste, “meu amor”, porque é uma história muito bonita de Amor!

Meu Deus, há quantos anos que não ouvira falar n’O Soldadinho de Chumbo… caíra em desuso? O Romeu & Julieta infantil… a sua primeira abordagem ao romantismo… Paulinha, contadora de histórias experiente (ou não fosse mãe pela segunda vez) ainda tentou, em vão, buscar no seu baú de histórias, mas não encontrou o soldadinho…

- Queres contar-me? Murmurou hesitante.

- Não sabes?

- Desculpa, não me lembro dela.

Então, por palavras próprias de um rapazinho de 8 anos, expressando-se numa linguagem coordenativa, lá foi desdobrando o novelo com as peripécias de um soldadinho de brinquedo, que se apaixonara por uma boneca bailarina, os quais ganhavam vida a partir da meia-noite!

E, no final remataria:

- Nas cinzas encontraram um coração de chumbo!

Agora sim, Paulinha recordara-se de uma das histórias mais tocantes da sua infância: à memória chegara-lhe a imagem de um soldadinho de chumbo navegando dentro de um barco de papel… a imagem de um coraçãozinho de chumbo, resultado da fusão do soldadinho brinquedo com a boneca bailarina.

Enquanto os fios da memória se articulavam, os seus olhos humedeciam. Ainda os tentou esconder do filho, dizendo-lhe: - Mas e afinal, qual é a lição deste conto?

- Não sei, mãe. Não percebi.

- Eu ajudo: o Amor tudo vence, mesmo o fogo; o Amor é Uno e indivisível.

- Queres dizer que o soldadinho e a bailarina, ficaram um só?

- Sim, é isso mesmo, unidos para sempre.

- Mãe, também não percebo porque estás a chorar?

- Eu também não! És um fantástico contador de histórias, mas se calhar, será melhor dedicares-te antes à informática… - Dissera-lhe enquanto o abraçava.

- Porquê?

- Para não chorares, nem fazeres chorar os outros.

- Não percebo…


13-09-2014





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