Paulinha gostava particularmente d’O Capuchinho
Vermelho e d’O Soldadinho de Chumbo.
Embora o primeiro conto a acompanhasse durante
toda a sua vida, o segundo, ficaria escondido, como que soterrado num baú de
memórias ainda por abrir.
Era uma manhã de sábado, como tantas outras,
com a diferença de terem decorrido mais de quarenta anos. À mesa do
pequeno-almoço (para os conterrâneos de Paulinha, matabicho), ouvia enternecida as descobertas do seu pequeno
homenzinho (como gostava de lhe chamar) de 8 anos, o seu geniozinho, não da
lâmpada (esta estava agora ultrapassada) mas da informática.
- Sabes quais são os contos que mais gosto,
mãe? Perguntara-lhe convicto do que iria afirmar.
- Não!
- São: Os 3 Irmãos e o Soldadinho de Chumbo.
- Porquê?
- Os 3 Irmãos (entretanto contara-lhe a
história) porque nos conta uma lição!
- Ah, queres dizer uma moralidade: “Não faças
aos outros o que não gostarias que te fizessem a ti.” – Acrescentou.
- E o Soldadinho de Chumbo, meu amor, porquê?
Perguntara-lhe, num misto de ternura e curiosidade.
- Por isso mesmo que disseste, “meu amor”,
porque é uma história muito bonita de Amor!
Meu Deus, há quantos anos que não ouvira falar
n’O Soldadinho de Chumbo… caíra em desuso? O Romeu & Julieta infantil… a
sua primeira abordagem ao romantismo… Paulinha, contadora de histórias
experiente (ou não fosse mãe pela segunda vez) ainda tentou, em vão, buscar no
seu baú de histórias, mas não encontrou o soldadinho…
- Queres contar-me? Murmurou hesitante.
- Não sabes?
- Desculpa, não me lembro dela.
Então, por palavras próprias de um rapazinho de 8
anos, expressando-se numa linguagem coordenativa, lá foi desdobrando o novelo
com as peripécias de um soldadinho de brinquedo, que se apaixonara por uma
boneca bailarina, os quais ganhavam vida a partir da meia-noite!
E, no final remataria:
- Nas cinzas encontraram um coração de chumbo!
Agora sim, Paulinha recordara-se de uma das
histórias mais tocantes da sua infância: à memória chegara-lhe a imagem de um
soldadinho de chumbo navegando dentro de um barco de papel… a imagem de um coraçãozinho
de chumbo, resultado da fusão do soldadinho brinquedo com a boneca bailarina.
Enquanto os fios da memória se articulavam, os
seus olhos humedeciam. Ainda os tentou esconder do filho, dizendo-lhe: - Mas e
afinal, qual é a lição deste conto?
- Não sei, mãe. Não percebi.
- Eu ajudo: o Amor tudo vence, mesmo o fogo; o
Amor é Uno e indivisível.
- Queres dizer que o soldadinho e a bailarina,
ficaram um só?
- Sim, é isso mesmo, unidos para sempre.
- Mãe, também não percebo porque estás a
chorar?
- Eu também não! És um fantástico contador de
histórias, mas se calhar, será melhor dedicares-te antes à informática… - Dissera-lhe
enquanto o abraçava.
- Porquê?
- Para não chorares, nem fazeres chorar os
outros.
- Não percebo…
13-09-2014
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