D. Isabel, na pujança dos seus 54 anos era ainda uma avó jovem, de estatura
pequena e formas arredondadas, braços fortes e protectores, de doces olhos castanhos e um sorriso que emanava toda a bondade do mundo. Ternamente, olhava para dentro dos olhos de sua neta e suspirando de modo apreensivo, dizia:
– Paulinha, estás com pouco sangue nos olhos… vou preparar-te uma gemada!
Paulinha, acabara de completar 4 anos, menina travessa, de olhos castanhos amendoados que irradiavam a alegria e traquinice próprias da idade, resmungava:
– Mas eu não gosto nada de gemada! Não, não, não quero… e fugia descalça pelo quintal fora… corria em direcção ao horizonte, pulava, saltitava, cabriolava… mas voltava sempre para adormecer o seu cansaço no regaço de sua avó.
D. Isabel, embalava-a embevecida, com os seus braços fortes como quem segura a fragilidade de umas asas de anjo e aconchegava-a na cama.
Entretanto, Paulinha, com seus caracóis castanhos amêndoa de caju repousados numa almofada de linho, sonhava… sonhava que continuava a correr descalça entre nuvens de algodão, brancas e fofas, como claras em castelo.
– Acorda, Paulinha, vem ver o que te fiz! – dizia docemente D. Isabel, enquanto lhe acariciava os cabelos.
– Acorda, Paulinha, vem ver o que te fiz! – dizia docemente D. Isabel, enquanto lhe acariciava os cabelos.
Passados tantos anos, sou capaz de jurar que continuo a sentir, vindo do fundo da cozinha de D. Isabel, a fragrância adocicada dos seus suspiros brancos e fofinhos como nuvens de algodão doce. Quase tão doce quanto o mel que transbordava dos seus olhos, quando olhava a neta.
09-04-2011
Sem comentários:
Enviar um comentário